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Charles Bukowski

Finalmente chegou o dia do Baile de Formatura.
Foi realizado no ginásio feminino com música ao vivo, uma banda de verdade.
Não sei por que, mas andei até lá naquela noite, os quatros quilômetros que separavam a escola da casa dos meus pais.
Fiquei do lado de fora, no escuro olhando para o baile, através das janelas gradeadas, completamente admirado.
Todas as garotas pareciam extremamente crescidas, imponentes, adoráveis, trajando vestidos longos, e todas exalando beleza.
Quase não as reconheci.
E os garotos em seus smokings estavam muito bem, dançavam com perfeição, cada qual segurando uma garota nos braços, seus rostos pressionados contra os cabelos delas.
Todos dançavam com extrema graça, e a música vinha alta e límpida e boa, potente.
Então vislumbrei o reflexo do meu rosto a admirá los marcado por espinhas e cicatrizes, minha camisa surrada.
Eu era como uma fera da selva atraída pela luz, olhando para dentro.
Por que eu tinha vindo Sentia me mal.
Mas continuava assistindo a tudo.
A dança terminou.
Houve uma pausa.
Os casais trocavam palavras com facilidade.
Era algo natural e civilizado.
Onde eles tinham aprendido a conversar e a dançar Eu não podia conversar ou dançar.
Todo mundo sabia alguma coisa que eu desconhecia.
As garotas eram tão lindas; os rapazes, tão elegantes.
Eu ficaria aterrorizado só de olhar para uma daquelas garotas, o que dizer ficar sozinho em sua companhia.
Mirá la nos olhos ou dançar com ela estaria além das minhas forças.
E ainda assim eu tinha consciência de que o que via não era tão simples e nem bonito como aparentava ser.
Havia um preço a ser pago por aquilo tudo, uma falsidade generalizada na qual facilmente se poderia acreditar e que poderia ser o primeiro passo para um beco sem saída.
A banda voltou a tocar e as garotas e os garotos recomeçaram a dança, e as luzes sobre suas cabeças giravam, lançando sobre os casais reflexos dourados, depois vermelhos, azuis, verdes e então novamente dourados.
Enquanto eu os observava, dizia para mim mesmo que um dia minha dança iria começar.
Quando este dia chegasse teria alguma coisa que eles não têm.
De repente, contudo, aquilo se tornou demais para mim.
Eu os odiei.
Odiei sua beleza, sua juventude sem problemas e, enquanto os via dançar por entre o mar de luzes mágicas e coloridas, abraçados uns aos outros, sentindo se tão bem, pequenas crianças ilesas, desfrutando de sua sorte temporária, odiei os por terem algo que eu ainda não tinha, e disse para mim mesmo, repeti para mim mesmo, algum dia serei tão feliz quanto vocês, esperem para ver.
Seguiram dançando, enquanto eu repetia minha frase para eles.