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EDEMILSON RIBAS

Desde criança, ouço histórias de que o domingo, no final do dia, é sempre um pouco melancólico.
“É um entardecer estranho! ”, dizia uma jovem que sonhava com casamento e que morava na minha cidade.
“É solitário, é como se a semana estivesse acabando e, com ela, acabassem as chances de algumas coisas novas acontecerem”, lamentava ela.
Eu argumentava, dizendo que a semana acabava no sábado.
Domingo era o início.
E todo início nasce com alguma possibilidade.
Lembro me de um padre que falava sobre isso.
Que dizia que era bom, depois da missa, ter retreta para alegrar a noite de domingo.
Coisas do interior.
Ouvi gente dizendo que a melancolia do domingo vem da consciência de que o fim de semana acabou e de que tudo recomeça na segunda feira.
Ficava pensando eu, "Mas quando se trabalha no que se gosta, isso não é um problema".
O tempo foi passando, e eu fiquei com a impressão de que essa melancolia era coisa do interior.
E de que, nas grandes cidades, com mais opções, o domingo era uma festa.
Teatro, cinema, shopping, shows musicais, encontros interessantes.
Foi quando, numa roda de amigos, ouvi alguns desabafos semelhantes àqueles da cidade de onde vim.
Final de domingo é melancólico, final de domingo é quase uma dor.
"Dor" ! Perguntei um pouco chocado.
"Dor do quê Dor, por quê ” Ficaram se entreolhando e talvez imaginando que a minha pergunta não fizesse muito sentido.
Que era óbvio que essa tristeza do crepúsculo dominical vinha sem ser convidada.
Insisti.
E eles ainda em silêncio.
Então, uma amiga disse: "Vamos fazer compras ", e outra retrucou: "Prefiro um cinema, o tempo passa mais rapidamente".
Querer que o tempo passe mais rapidamente é não compreender sua grandeza.
Cada tempo é tempo de existir sem descrenças, sem desistências.
Sejam domingos sem luar ou quintas feiras promissoras.
Não importa.
Reinventar as ações é prova de compreensão da vida.
Cada dia tem o seu tempero.
Fiquei lembrando quantas pessoas que conheço e que aproveitam o domingo para fazer algum trabalho voluntário.
Visitas a hospitais, asilos, abrigos, comunidades carentes.
Contadores de histórias, fazedores de bolos ou de outras comidas.
Operários das boas ações.
Boas ações fazem aqueles que visitam amigos que, por alguma razão, sentem fome de gente e para quem só a solidão é presença frequente.
Para muitos, o domingo é um dia santo.
Rezar nos preenche dos melhores sentimentos.
Ajuda nos a refletir sobre o que fizemos e sobre o que necessitamos para que nossa ventura na vida tenha um sentido.
Muitos sentidos.
Rezar ajuda nos a ficar um pouco com as nossas feridas e com as lembranças de futuros com que sonhamos.
Não é proibido sonhar aos domingos.
Nem nos outros dias.
Fernando Pessoa, sob o heterônimo Álvaro de Campos, no início de seu poema "Tabacaria" surpreende nos com dizeres benditos:
Não sou nada.
Nunca serei nada, não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
À primeira vista, lendo esses versos, invade nos uma sensação de vazio, de angústia, de descrença.
Mais atentamente, percebemos que o eu poético confessa que pode não ser nada, mas pode ter sonhos.
Só o que possui são muitos sonhos.
Todos os sonhos do mundo! Que grandeza! Que bênção poder sonhar! É a presença que supre todas as ausências.
É um mistério que o domingo ou qualquer outro dia pode não ver, se não desejar ver.
Que os pensamentos que vestem de tédio alguns domingos arrisquem momentos ricos de reflexão.
A reflexão que agrega e não a que deprime.
A reflexão de que a vida é útil, de que cada instante é precioso e de que os futuros são sempre bem vindos.
E nos desperte, também, “a sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro”.
Quem sonha tudo pode.
Até mesmo colorir de alegria todos os momentos de todos os dias.
Não desperdicemos a vida, não apressemos o tempo, com lamúrias e queixumes.
Bom domingo a todos! Recebamos felizes a chance de mais um início.