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Amanda Seguezzi

Ao clandestino.
Eu só queria te dizer que me arrependo por ser o que você nunca cogitou apreciar.
Que eu me engasgo toda vez que te vejo sem rumo por aí.
Que quero o mesmo rumo, mesmo não entendendo por quais caminhos tu pretende demarcar os teus passos.
Escrevo te por não saber exatamente o que fazer com esse amontoado de palavras que me despem num olhar feroz.
Escrevo por vergonha ilícita de tragar saudade ao invés de amnésia.
Beber doses de culpa, como se o gosto forte do álcool contracenasse com a tua saliva em uma luta brutal de engano e dívida e mesmo assim eu perdesse pra lembrança.
Eu precisei esconder a tremura nas mãos, a pupila dilatada e qualquer outro sinal de fraqueza na tua última visita.
Precisei costurar o meu todo em retalhos para que a minha estrutura não se rompesse.
Fiz um trato com o acaso e alterei o tom do meu gargalhar.
Abracei o travesseiro demoradamente como se aquele perfume me confortasse.
Faz assim ó, fica parado enquanto eu passo as pontas dos dedos pelo contorno do teu nariz.
Deixa eu rir daquela cicatriz no queixo, morder a ponta da tua orelha.
Só fica.
Fica quieto, não diz nada, eu não preciso.
Só não negue um abraço a quem sente falta de se acomodar nos teus braços.
Não sorria, eu nem prezo por você.
Apenas finjo gostar enquanto te desejo.
Apenas digo que gosto para não dizer que te amo.
E foi assim.
Meio sem sentido, meio torto.
Eu vi numa aresta daquele sorriso algo que eu sempre quis, mas nunca pensei que pudesse existir.
Eu vi num tom de pele mil tirinhas de diamantes e vibrei com a ganância e o brilho ilusório.
Foi como olhar um dia nublado pela primeira vez.
Conseguia sentir o cheiro de terra molhada como o aroma daqueles dias de chuva.
Encontrava me nas tempestades dos teus beijos e me adaptava nelas como se aqueles moinhos de ventania fossem feitos especialmente para mim.
Assim como o perfume doce.
Ao clandestino dos meus pecados, dos meus sonhos sem previsões.
É como sorrir para o céu por te ver nele todas as manhãs.
É negar, negar, negar.
É descobrir que até as palavras usam a distração como rota de fuga.
É descobrir que além do meu ontem, você também é a minha distração.
É reconhecer dentre os esquecimentos que eu quero te colar nos meus amanhãs.
Sim, moreno.
Nas manhãs preguiçosas, estirados no sofá da sala, num domingo qualquer.
Agora nem isso posso ter.
Desculpa não conseguir empilhar nossos instantes numa prateleira qualquer.
Desculpa esse dégradé de saudade, redemoinhos de ilusões que me alimentam e te distanciam.
Eu sentia tua respiração distante, equilibrando me na corda bamba que nos prendia, mesmo que nada te prendesse a mim agora.
Desculpa não ter sido eu a pessoa que desabotoou o teu melhor sorriso.
E eu ainda te dedico os meus versos mais sinceros.
Ao clandestino.

Eu falo em seguir em frente, mas eu mesma nunca fui muito de ouvir os meus conselhos.
Cometo erros, esqueço aniversários e sou grossa até quando não quero.
Mas, apesar dos meus defeitos, sempre tive muitas expectativas no amor.
Sério! Como seria.
Que formato teria
O que eu não sabia, e o que ninguém me disse, é que o amor não é aquela bala perdida que te acerta sem mais nem menos.
Bom, pelo menos comigo funcionou diferente.
Foi como ter um alarme no peito e escutá lo esbravejar.
Sentir que era a hora de ser um plural.
O amor te deixa bobo e paranoico.
As nuvens passam a ter formas, os pássaros cantam mais alto.
Você não é você quando se apaixona.
O mundo é colorido em duzentos tons de vermelho e você gosta de escutar promessas, mesmo que não tenha pedido para ouvi las.
Amor é pensar fora do corpo.
Saber ler mentes, decorar trejeitos e, quem sabe até, aprender a fazê los também.
Amar é abaixar a guarda e mandar o exército de autossuficiência recuar.
Amar é compromisso.
Amar é uma palavra decisiva.
E palavras são destinos, caminhos em linhas que a alma escreve.
Escreve na parede do peito do outro.
Até porque, você não pode iniciar um incêndio sem uma faísca.
Você ama pela convivência, ama pela afinidade.
Ama e entende que ser perfeito não interessa.
Perfeição não discute, ela tem medo de ser machucada.
Pois com a perfeição não existem os receios.
Não tem meio termo.
A perfeição te deixa desleixar e some com todas as coragens que você nunca pensou em ter.
Então, por algumas vezes, posso até pensar que o amor é uma bala perdida sim.
Pois você sobrevive.
E recomeça.
E valoriza o que tem.
Faz planos, compra duas passagens, dois travesseiros.
Aprimora se por dois, se reinventa duplamente.
Dentro do nosso universo existe um equilíbrio maluco.
O que um faz, o outro faz.
No amor eu consigo improvisar.
Aprendo que ser melhor é cronológico, enquanto os sentimentos são atemporais.
Aprendo que tenho medo de cometer erros, tenho medo de passar os meus aniversários sem ninguém por perto, medo de ter um vinho na geladeira por mais de três semanas por não ter com quem beber.
Percebi que a vida não é um conto de fadas.
É concreta, com pessoas e sensações reais.
E essa realidade me envolve, atiça e pasma.
Pois, neste plano, o amor será sempre o nosso ponto de encontro.
Ponto de ônibus coberto que nos abriga em dia de chuva.
Eu subestimei o amor e a capacidade que ele teve de me mudar.
Mas o amor também me subestimou e eu provei para mim mesma até , que ter alguém para esquentar os pés (e o coração) não era de todo ruim.

Eu vou dizer que te amo da boca pra fora, com os lábios cheios de orgulho e veneno apaixonado letal.
E, gradualmente, da mesma forma em que o entardecer transita da noite para o dia, vou guardar todos os teus segredos em alguma nuvem de mim.
Aí, meus olhos vão enxergar a neblina dos teus e atravessá las feito um cometa.
A chuva do meu céu tem o mesmo cheiro que flui do teu abraço quando me cerca.
E eu fico ali, boquiaberta, orbitando fora do meu sistema, flertando com as tuas intenções, tropeçando em palavras.
Porque, por você, eu estou disposta a viver sem saber o que vai acontecer.
Aceito improvisar.
Aceito ser o agora ou nunca.
Eu quero os teus olhos escrevendo o meu nome.
Eu quero que você leia os meus lábios e sobreviva com as minhas dúvidas.
Eu quero a certeza do momento, mas não um contrato com o pra sempre.

Eu vou dizer que te amo da boca pra fora, com êxito em cada sílaba, para disfarçar a pressa que tenho em ser amada de volta.
Aí você se transformará na promessa que fiz ao vento.
Na memória ininterrupta.
Na vida que ainda não vivi.
E, subitamente, da mesma forma que o céu toca o mar em dias de tempestade, vou guardar você no meu impossível.
Aí, teus olhos vão se tornar o meu anticorpo contra o pessimismo.
Por você eu aceito ser fraca.
Aceito mergulhar em águas rasas.
Aceito ser menos tóxica.
Pois eu quero o explosivo que vem enrolado nos teus sentimentos.
Eu quero inventar as respostas das perguntas que as pontas dos teus dedos fazem ao meu corpo.
Eu quero te esconder em cada hora do meu dia.
Eu quero ser o destino que você chama de acaso.
Porque, por você, eu aceito ser coincidência.

Eu vou dizer que te amo da boca pra fora.
Que te amo pelos pulmões.
Que te amo em cada artéria.
E, naturalmente, vou descobrir que quem me envenena é você.
Aí, você aceitará ser a minha contradição.
O meu calor.
A declaração de amor que nunca fiz.

Então, seremos o óbvio.

Seremos o prazer do arrepio.
Os que se amam em três palavras, mas que podem se destruir em duas.
Mas aí, seremos fracos demais para roteirizar uma nova solidão.
Estaremos perdidos em nossa própria intimidade.
Nós não saberemos mais voltar ao início das nossas histórias se isso arrancar um da alma do outro.
A incompetência é o nosso vício.
Eu arrebento no lado mais fraco.
Eu termino onde você começa.
 Eu te amo da boca pra fora, mas isso você já sabe.

Um dia a vida te convence de que os recomeços são necessários.
Que amar demais e por dois não é recíproco.
Aprende que esse tempo de que tanto falam é desleal quando quer e honesto quando pode.
Percebe que o amor não é para os fracos, mas sim para os distraídos.
Descobre que a vida não é essa bomba relógio cronometrada que alguns dizem.
Um dia o choro abafado no travesseiro transforma se em sorriso bobo.
E você percebe que finais felizes podem não ser tão mágicos quanto o presente.
E se contenta com isso.
Entende quando o sofrer passa do ponto e para de cultivá lo.
Um dia a tempestade volta a ser apenas uma garoa fina.
E, para cada sorriso seu, uma estrela brotará no céu.
Aí, vai entender que nada pode durar além do sufoco da alma.
Vai aprender a sentir o cheiro do perigo e ir embora.
Saberá fazer as malas.
Refazer a vida.
Um dia a vida te convence de que tentar acumular uma pilha de erros com alguém não satisfará a tua felicidade.
E vai entender que nada que não passe de teoria merece a oportunidade de ser real.
Que os sonhos são maiores que as falsas alegrias.
Que difícil mesmo é ficar em cima do muro, enquanto milhares de chances preciosas são perdidas todos os dias.
Um dia você vai saber que ser sozinho não é e nunca foi , ser solitário.
E aprenderá a viver sem grades, tanto no peito quanto fora dele.
E se apaixonará pelas reviravoltas da vida, as voltas que o mundo dá.
Então, você vai encarar o passado como se não o conhecesse.
Para os outros, um mistério.
Para você, apenas mais um segredo.
Um dia, se o recomeço não fizer sentido, tente entender que, às vezes, é preciso juntar todos os montinhos de distrações e soprá los ao vento.
Compreenda que muitas pessoas vão se perdendo pelos caminhos, enquanto tentamos achar os nossos.
Assuma todos os riscos.
Leia todas as peles.
Decifre todos os mapas.
Siga fazendo o melhor que sabe.
Não deixe ninguém tentar modificar o que você é.
Pode levar tempo, mas você entenderá o valor da liberdade que o primeiro passo pode lhe proporcionar.

"Por mais sem sentido que fosse, eu simpatizava muito com a ideologia de esconder se num mundo irreal e imaginário.
Nele eu invento.
Sou rainha, dama da noite, a peça que se encaixa em todos os quebra cabeças.
Nele eu te moldo.
Reestruturo tua sensibilidade e altero o status da tua liberdade.
Nesse mundo perfeito, viajamos através das cores do arco íris e Sofrimento é o nome de um reino distante.
Aquela valsa só não é mais bonita que o pôr do sol refletindo a cor do teu olho, aquele sol não é tão mais puro quanto o sossego entorpecente que tua presença me traz.
Entretanto nunca saberás deste lugar.
Não correrás comigo na chuva de algodão e não saberás que as flores do campo se abrem devido ao teu sorriso e não por culpa da primavera.
Neste espaço, te esculpo em mil faces, mil trejeitos.
Te sequestro de mil maneiras, te roubo, me envolvo precipitadamente, contudo não me precipito em querer te tanto só pra mim.
Ficas perdido em meus labirintos, na trama dos meus cabelos e nas curvas do meu corpo.
Apenas te perco quando desperto.
Meus dedos sempre dançam nas teclas da máquina de escrever, enquanto te desenho com minhas palavras.
A realidade é perturbadora, assim como aquela saudadezinha que bate na janela de madrugada de vez em quando.
Eu não me adaptava a isso tudo, só assim eu pudera perceber que as ilusões escaparam pelas frestas do pensamento e assumiram um papel real.
Era engraçado como eu amava sozinha.
Era engraçado alimentar um animal sedento por afeto, atribuindo qualquer pequeno gesto como um sinal de esperança serena.
Realidade é olhar para uma estrela cadente e querer desejar qualquer coisa, no entanto sempre acabar comparando o sorriso dele com o brilho de uma constelação.
Inevitável não pensar.
É dançar conforme uma música desregulada onde sabes que os passos estão errados, mas sabes que não se pode modificá la ou trocar o disco por não seres tu o ser dominante.
Queria reviver aquele ensejo onde não precisava visitar esse mundo paralelo com frequência para sentir teu semblante, aquela ocasião onde eu não precisava decorar o teu cheiro e lembrá lo todo dia, pois eu podia senti lo a cada madrugada quando estavas ao meu lado.
Ah que frenesi.
Te desfaz nos meus braços de novo e me mostra que o infinito é quando nossas almas entram em sintonia e se reconhecem.
Infinito era aquela tatuagem discreta no antebraço que ele possuía.
Era como eu definia aquele pequeno instante que passava mais que depressa.
Era como se perder num universo colateral e não se importar se a eternidade perpetuasse.
Era veracidade e virou quimera.
Era exatidão e transformou se em teorias impraticáveis.
Aquilo que existe de fato nunca fora bem vindo, converteu se em infortúnios cercados de linhas cruzadas e reviravoltas inimagináveis.
Quem diria que trazendo nosso mundo à baixo eu conseguiria sorrir amarelo para as possibilidades reais da vida Mas é assim mesmo, ninguém se alimenta de presenças e lembranças não te fazem respirar.
Não tem volta e eu já me conformei.
Faço do teu silêncio um argumento e da tua ausência um contrato com o sossego, enfim."

Um menino chamado  
E tentando – ela milésima vez – ter um pouco de ti nos meus contos, percebo que o perco a cada maldita palavra, as mesmas que, por birra ou consentimento, fazem um carnaval em minha mente todos os dias.
Percebia então a minha falta de respeito com o destino não aceitando outras linhas tortas no meu caminho, justamente por me adaptar em tua linha, tão confusa, e conseguir me aninhar nela.
Desespero, talvez.
Ver te assim, tão vivo, tão morto, tão seco, fingindo prazer no nada, letargia óbvia, consciência adormecida, olhar vazio, consegui distinguir do sonho qualquer zelo que a ti já dedique, qualquer adoração maluca que, por milhas do tempo, me acompanharam feito uma máscara de porcelana.
Tinha uma boca na tua boca que não era a minha.
Você provou outro gosto, outra espessura.
Você arruinou qualquer possibilidade do nosso par – por mais sem sentido que fosse , e todos os afetos que algum dia pensei em te presentear num embrulho dourado.
Eu não chorei, porque, veja bem, por mais que sentisse a enxurrada de lembranças me dando pontapés no estômago, a fuga das borboletas, a vontade de verter tudo que um dia escapou junto com o sol naquele fim de tarde.
Apesar das pernas bambas, do caos me consumindo, do impulso insano de sair correndo e não ver, de ficar parada e aplaudir.
Apesar da inveja de quem não conheço, do sentimento de sorte por cair à ficha.
Eu descobri que eu alimentava um monstro aqui dentro, o alimentava com a tua presença, que num piscar de olhos pareceu morrer.
E ao final de tudo eu ainda conseguia sentir pena daquele menino ali tão amedrontado, tão vazio.
Ele era só um menino.
Ele era um menino tão só.
Contemplei a inexatidão dos olhos que há muito me acompanhavam nas mais diversas formas de sonho.
Eu admirava o medo transcendendo em silêncio, e posso até ousar ao dizer que eu sentia o cheiro do teu desespero e ele fedia.
Compreendi então, num lapso, que não precisaria mover um dedo, encontrar um significado para tanto desalento ou um conforto para a tua desordem.
Percebia através da nuvem negra no contorno do teu corpo que tua desconsolação iria te matar aos poucos e você iria seguir  se depredando.
Sumindo.
Virando o pó de uma biblioteca com livros sem história alguma.
E até me atrevo a dizer que Gabito Nunes lhe dedicou a frase: “Você mal deve ter uma alma, quanto mais gêmea de alguém.”.
Caiu a ficha de que eu não preciso querer o mal de quem faz isso sozinho, sem precisar de alheios. Acho que você vai me acompanhar pra sempre a cada loucura, a cada gargalhada alta.
Porque você preencheu um vazio em mim que eu nem sabia que existia, e agora eu me sinto vazia também.
Vazia de nós.
Depois de tudo, eu ainda te desejo um novo recomeço e uma nova perspectiva.
Eu te desejo um infinito mais bonito, mesmo que nunca o tenha visto.
Desejo nunca mais te ver de novo.
E pode passar quanto tempo for, eu acho que ainda vou te dedicar os meus melhores versos.
 Um menino chamado      
Desculpa, mas eu acho nem sei o teu nome direto.