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Martha Medeiros

Espelho e desejo
Uma amiga me diz que não suporta mais se olhar no espelho.
Ela está se achando gorda, feia, desprezível.
Antigamente, eu talvez dissesse a ela que está na hora de fazer uma dieta e dar uma ajeitada no visual, mas hoje em dia aconselho outra coisa: está na hora, isso sim, de trocar de espelho.
Ela está apenas um pouco acima do peso ideal, e feia não é de jeito nenhum.
É uma mulher inteligente, divertida, bacana.
O problema é que está totalmente focada no trabalho, não tem se relacionado com ninguém.
Não namora.
Não quer nem pensar em seduzir ou ser seduzida, fechou pra balanço.
É é justamente este o espelho que está lhe faltando pra ver se com olhos mais generosos.
A gente se apaixona por si próprio à medida que nos enxergamos através dos olhos dos outros.
Isolados numa ilha ou trancados num apartamento a tendência é não enxergarmos grandes atrativos em nós.
Mesmo sabendo que somos pessoas legais, quem confirma isso Ok, com a auto estima em dia, não dependemos tanto assim da apreciação alheia.
Mas ninguém consegue manter se em alta por muito tempo sem comprovar que é amado, gostado.
Em suma, desejado.
Todo ser humano necessita despertar desejo.
Quando as pessoas nos olham e não nos diferenciam de uma cadeira, a coisa vai mal.
Isso acontece muito naquela instituição, como é mesmo o nome Casamento.
Os dois seguem se amando, mas já estão há tanto tempo juntos que não faz mais diferença se a mulher embarangou ou se o marido perdeu os dois dentes da frente: "amo você de qualquer jeito, bem".
Ama, sem dúvida.
Mas não nos enxerga mais.
É aí que mora o perigo.
Homens e mulheres precisam de um espelho que lhes diga constantemente o quanto são interessantes e atraentes.
Se o espelho rachou em casa e não reflete mais nada, das duas uma: ou a gente se entrega ao desleixo, ou vai buscar reflexos de si mesmo em outro alguém.
Conheço garotas muito mais gordas que minha amiga, e menos bonitas e inteligentes do que ela, mas que não sentem vergonha do próprio corpo, seguem no jogo da vida, ganhando mais do que perdendo.
São bem amadas por amigos e namorados, portanto a imagem que têm delas mesmas é menos rigorosa.
E acabam se tornando belas de verdade.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.